sábado, 17 de outubro de 2009

Kia Cerato


O sedã coreano vem despertando a atenção do mercado com suas linhas marcantes. Ele custa menos que um City e, nos testes da revista Quatro Rodas, concluíram que ele tem predicados para agradar quem é dono de Civic e Corolla.
Por Marcelo Moura
O Cerato tem o porte do Corolla. Se parece menor, é graças ao trabalho de Peter Schreyer. Ele trabalhava na Audi e passou a chefiar o departamento de design da Kia, se bem que essa é uma pergunta que me fazem cada vez menos. O Soul fez as pessoas repararem no trabalho dele.

A carroceria do Cerato é atlética, com os paralamas dianteiros se esticando para acompanhar a larga bitola dianteira. A linha de capota cai suavemente, escondendo o volume do porta-malas, num formato de cupê. Se você achasse o antigo Cerato simpático, ninguém discutiria: seria dado como um caso perdido... Se você achar esse carro novo mais bonito que Civic, City, Vectra e Linea, ninguém vai discutir. É bem capaz de concordar.

O Cerato é tão bonito que às vezes decepciona. Você corre a mão pelo painel e encontra plástico duro, em vez de superfícies emborrachadas. Por que eu fiquei frustrado? Civic e Corolla também são assim. É que o desenho refinado eleva as expectativas. O rádio do Cerato também é caprichoso, e nem estou falando dos comandos no volante. Como num bom carro alemão, você aperta os botões de memória sabendo qual estação está gravada – elas vêm escritas na beira da tela vermelha. Com tweeters nas portas da frente, o som é bem razoável. Os para-sóis têm prolongamentos móveis, para aumentar a proteção contra o sol, e o console no teto tem um porta-óculos.

Mas outros detalhes fazem lembrar que estamos num carro de custo-benefício. Continue correndo os olhos pelo teto e você verá grandes tampinhas pregando o forro, na frente e atrás, como num Logan. O volante não tem ajuste de distância e o de altura é estranho, varia da posição baixa para a muito baixa. Encontrei uma posição confortável de dirigir, mas não foi de primeira. O banco do motorista tem ajuste de altura, mas é forrado por tecido sintético não muito diferente daquele que encontramos no Mille. Meu Cerato passaria num tapeceiro no caminho da concessionária para casa, talvez antes de encher o tanque. Pediria para cobrir também os painéis de porta. Eles têm bom aspecto, mas são de plástico puro. O banco de trás tem apoio de braço, mas falta apoio de cabeça e cinto de segurança para o quinto passageiro. O City tem isso e ainda pode reclinar o encosto.

Bancos de couro preto fariam jus à beleza do Cerato, e também a seu jeito de rodar. A suspensão é convencional (McPherson na frente e barra de torção atrás), mas o ajuste lembra o do antigo Corolla. Na cidade, ele filtra bem os buracos e paralelepípedos, sem sacolejos ou batidas ocas. Em velocidade, o Cerato é comunicativo, mas não é nervoso. Pelo menos, foi o que deu para conhecer nesse modelo completo, de R$ 57.900,00.

Aposto que o Cerato é melhor na versão manual. O câmbio automático tem função sequencial na alavanca e funcionamento suave, mas não há milagres: quatro marchas é pouco. Na cidade vai bem, pois as três primeiras são próximas. Mas na estrada, mesmo em subidas leves como a da Rodovia dos Imigrantes, o câmbio fica alternando entre deixar em terceira (com o motor gritando) ou passar à quarta (com o motor vazio). Não o culpo por isso, também fiquei em dúvida.

Mesmo encoberto por um câmbio automático limitado, o motor consegue aparecer. É o ótimo 1.6 16V usado no Soul, com 124 cavalos. Ele tem hábitos alimentares caros (a versão flex é esperada para 2010), mas pelo menos come pouco: fez 10,5 km/l na cidade e 13,9 km/l na estrada. E imagine que, na pista de testes, esse Cerato andou junto com o Civic automático (que é 1.8 flex e tem cinco marchas). Na prática, o Honda é mais agradável, roda mais relaxado, mas perceba que valentia não falta ao motor da Kia.

O Cerato nunca foi a referência entre os sedãs médios e, claro, não passaria a ser agora. A novidade é que, pela primeira vez, o maior problema parece ser a própria humildade da Kia. É como a mocinha comprida que virou mulherão e passou a receber convites para sair, mas não aceita nenhum porque acha que estão caçoando dela. Não ria, dona Kia: pode maquiar o Cerato, que está cheio de rapazes querendo compromisso sério.

Direção, Freio e Suspensão

Conforto na cidade, com volante leve e suspensão muito boa em filtrar paralelepídedos. Nem por isso é molenga na estrada.

Motor e Câmbio

O motor 1.6 consegue levar esse carro pesado com valentia e economia. O câmbio automático de quatro marchas força o motor a trabalhar fora da faixa ideal, na estrada. Na cidade, vai bem.

Carroceria

Ponto alto do carro, é arrojada e elegante. O visual de cupê não sacrificou o espaço dos passageiros de trás ou do porta-malas.

Vida a Bordo

Espaço amplo, um bom rádio e porta-trecos espaçosos. Mas os materiais destoam do requinte sugerido pelo visual do carro: carpete áspero, painel de porta sem tecido e bancos com forração simples.

Segurança

Raridade, um sedã médio com ABS e airbag duplo desde a versão de R$ 52.900,00. Por outro lado, falta apoio de cabeça e cinto de três pontos até na versão completa.

Seu Bolso

Se a Fiat tem dificuldade para vingar no nosso mercado de sedãs médios, imagine a Kia. Mas o Cerato joga pesado, com garantia de 5 anos, preço atraente, bons equipamentos e estilo especial.

Os Rivais

Honda City EX 1.5 flex AT

Honda é a aposta segura nesse mercado, mas o City equivalente ao Cerato é caro: R$ 65.450,00.



Nissan Sentra 2.0 S flex CVT

É espaçoso, potente e bem feito, mas as vendas não decolaram. Talvez agora, com o flex...



Veredito

Esqueça a imagem que você tem da Kia – aliás, comece a construir uma. Este Cerato é visita obrigatória para quem procura um sedã emergente. Tem presença, equipamentos e preço. Falhas? Não é flex, tem acabamento singelo e Kia ainda não dá status.



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